O mundo de amanhã: energia é chave para transformação e o bitcoin pode ter papel importante
O mundo de amanhã: energia é chave para transformação e o bitcoin pode ter papel importante nisso
O mundo está em constante transformação. E essa transformação é cada vez mais rápida. Na realidade, o “novo normal” é uma constante transformação e a única certeza é a mudança.
A Era da Informação chegou com tudo e com isso diversos conceitos tiveram que ser atualizados para não serem destruídos pelo novo. Mudanças de paradigmas estão ocorrendo ao nosso redor e quem não entender isso vai ficar defasado rapidamente.
Antes, estudar era algo que fazíamos até ingressarmos na vida profissional. O mundo atual, entretanto, demanda que os estudos deixem de ser um ato episódico e vire rotina continua. Quem não estiver atualizado sobre as novas tendências ficará para trás.
Pensando nesse contexto, separei sete tendências do mercado de energia para te ajudar a se antecipar a mudanças que estão no horizonte e se aproximam rapidamente.
1- Energias renováveis serão amplamente adotadas
A transição para as energias renováveis é um caminho sem volta. Conforme o tempo passa, esse setor se tornará cada vez mais eficiente. Hoje, em locais com potencial, as energias eólicas e solar já são as formas mais baratas e eficientes de geração de energia.
Com a pressão popular por uma matriz energética mais limpa e mais investimentos em pesquisa, essa tendência tende a se acentuar.
Outra questão é que a percepção de que os combustíveis fósseis são fontes estáveis de energia sofreu um revés com a invasão da Ucrânia e suas consequências. Enquanto a geração das energias renováveis geralmente pode ser feita nos locais de consumo ou próximo deles, o petróleo e o gás natural dependem de grandes produtores globais e são mais influenciáveis pela geopolítica.
A única fonte de energia fóssil que tende a se manter competitiva no médio prazo como forma de geração de energia é o gás natural.
2- Operações de geração de energia renovável serão multimodais
Uma parcela significa da produção de energia no Brasil é hidrelétrica. Isso significa que no país existem diversos reservatórios, que são basicamente superfícies planas e, como o Brasil é um país tropical, com grande incidência de luz solar.
No futuro, esses reservatórios serão utilizados como parques de geração solar e serão integrados às subestação das hidrelétricas, que permitirão a integração e transmissão dessa energia gerada para a rede de distribuição. Em locais com bastante vento, turbinas eólicas também serão instaladas, aumentando ainda mais o aproveitamento desses empreendimentos.
3- A geração distribuída será amplamente adotada
Até o início da década passada, não existia geração de energia distribuída no Brasil. Desde então, essa forma de geração vem tendo uma adoção exponencial. Essa tendência continuará por muito tempo, visto que a penetração dessa forma de geração ainda é incipiente.
No futuro, consumidores individuais poderão instalar seus próprios painéis solares no telhado de suas residências ou se juntarão em pequenas cooperativas, como por exemplo em condomínios ou clubes, e construirão pequenos geradores de energia elétrica.
4- O desperdício de energia ociosa tende a zero
Em 2009, a humanidade inventou uma tecnologia que permite a monetização de energia ociosa. O nome dela? Mineração de bitcoin. Graças a esse processo, hoje é possível converter energia em dinheiro, independentemente de onde essa energia estiver localizada.
Um exemplo claro desse processo de monetização de energia ociosa é a queima do gás natural que ocorre associado a exploração de petróleo. Atualmente, a maioria desse gás excedente é queimado (o chamado “flare gas”) pois não é economicamente viável aproveitá-lo.
Com a mineração de bitcoin, esse cenário mudou. Agora, existe uma grande tendência de que esse gás passe a ser utilizado para abastecer operações de mineração de bitcoin.
Com isso, um gás que era desperdiçado passou a ser monetizável. Um exemplo desta lógica é a Exxon ter começado um projeto piloto de mineração de bitcoin em 2021.
Essa mesma lógica pode ser aplicada a qualquer outra forma de energia ociosa minimamente acessível, como por exemplo com o biogás resultante de criações bovinas, suínas e galináceas, ou de lixões e aterros.
5- Redes elétricas mais robustas, energia mais barata para o consumidor final
Atualmente as redes elétricas são projetadas para produzir energia para suprir o pico da demanda. Entretanto, não existe forma viável de armazenamento dessa energia e ela fica ociosa na maioria dos horários, quando a demanda não está no pico.
Ao ser uma forma de monetização de energia excedente, a mineração de bitcoin permite a construção de redes superdimensionadas. Essas redes não precisarão ser calculadas pensando em evitar desperdício e mirando no momento de pico de demanda, o que sempre incorre num risco de erro de cálculo e apagões.
Uma consequência desta lógica é que sem a necessidade de cobrar o consumidor final pela produção de energia excedente, o preço na energia diminuirá consideravelmente.
6- Setores de energia e mineração de bitcoin irão se fundir
Atualmente, pensamos nos setores de energia e de mineração de bitcoin como dois setores independentes, mas no futuro eles se fundirão.
As características da mineração de bitcoin tornam essa atividade atrativa para o setor de energia, o que já é observado de maneira incipiente.
A lógica apresentada no item acima implica que as geradoras de energia irão adotar a mineração de bitcoin como forma de monetizar essa energia ociosa.
7- Capacidade de geração de energia vai aumentar muito
As consequências da existência de uma tecnologia que permite monetizar energia ociosa são amplas e profundas.
Atualmente o ser humano deixa de aproveitar uma parcela significativa da energia que produz, pois o seu transporte e armazenamento não é viável. Graças à mineração de bitcoin, essa lógica deve se inverter.
Podemos citar a queima do gás metano excedente na produção de petróleo como um desses exemplos, mas também o gás proveniente de aterros sanitários e criações de animais, como citado acima.
Mas, além dessas possibilidades, diversas fontes energéticas em locais remotos se tornarão economicamente viáveis. Dois exemplos claros disso são os desertos, locais com amplo potencial de geração de energia solar, e as ilhas vulcânicas, com amplo potencial de geração de energia geotermal.
A ausência de mercado consumidor próximo dessas localidades impedia que essas fontes de energia fossem aproveitadas pela humanidade. Com a invenção de uma tecnologia que permite a monetização de energia ociosa, essa dinâmica mudou.
Essa lógica também implica que o aumento de demanda por painéis solares, turbinas eólicas e demais materiais necessários para a geração de energia gerará mais pesquisa e inovação no setor e, consequentemente, um barateamento desses equipamentos.
A 3ª Revolução Energética
Para finalizar, vale lembrar que a energia é a única moeda universal. Não existe pobreza, o que existe é a pobreza energética. Da mesma forma, ter acesso a mais energia (riqueza energética) destravará uma grande revolução na humanidade.
Nossa espécie já deu dois grandes saltos evolutivos relacionados ao destravamento de modos diferentes de utilizar a energia. O primeiro, quando dominamos o fogo e aprendemos a cozinhar, condição que nos permitiu ingerir mais calorias em menos tempo e, com isso, nosso cérebro se desenvolveu.
Depois, quando passamos a acessar a energia armazenada e concentrada ao longo de milhões de anos, os chamados combustíveis fósseis, quando nos tornamos uma sociedade industrial e passamos de uma população global em torno de 900 milhões de pessoas para mais de 7,7 bilhões de pessoas atualmente.
A monetização de capacidade ociosa de energia, seja a incidência solar em desertos, os ventos ou o potencial geotermal em ilhas vulcânicas, nos permitirá dar o terceiro salto evolutivo em relação ao uso da energia.
Acredito que o mundo de amanhã será um mundo com abundância energética, e, portanto, abundância de recursos.
*Rudá Pellini é cofundador da Wise&Trust e da Arthur Mining e autor do livro “O Futuro do Dinheiro”, que aborda a inovação tecnológica nos investimentos e como o mercado financeiro está passando por uma grande transformação.
Fonte: Revista Exame